A convergência midiática sugere um fenômeno recente, cuja procedência vem dos anos 1980, com a hibridização de linguagens dos meios eletrônicos. O uso comum de um mesmo código (binário) entre os meios provocou a multiplicação de novas mídias, que abrigam um número cada vez maior de serviços de radiodifusão e telecomunicação (celulares, notebooks, handhelds etc). "Os defensores da sinergia total entre mídias sustentam que ela não será alcançada até que os recursos da mídia e os canais de telecomunicação estejam totalmente integrados". (DIZARD JUNIOR, 2000, 35)
Todavia, se a aplicabilidade da tecnologia digital só alcançou êxito na contemporaneidade, as conjecturas a respeito da conjugação dos serviços de comunicação datam de décadas mais antigas.
Em seus romances, o autor francês Jules Verne (1828 - 1905) exercitou sua faculdade de levantar hipóteses a respeito das possibilidades tecnológicas que o futuro propiciaria às pessoas. "Verne mostra a clarividência de costume ao tentar antever a tecnologia que moldaria o cotidiano
dos parisienses do século 20" (NOGUEIRA, 2005, 64).
Foi da mente de Verne que surgiram idéias que influenciariam a criação de várias invenções que se consolidariam somente no século vindouro, como o submarino e o foguete espacial. "O conhecimento dele estava muito mais ligado à tecnologia do que à ciência, ele era muito mais um engenheiro do que físico" (PIAZZI apud NOGUEIRA, 2005, 63).
Em seu conto
O Dia de um jornalista americano em 2889, Verne expressa sua clarividência ao apresentar um dispositivo midiático que muito se assemelha aos aparelhos de áudio e vídeo usados em teleconferências atualmente. O
fonotelefoto é, provavelmente, um dos mais antigos registros do que pode ser considerado o protótipo dos computadores pessoais conectados em rede. Tal dispositivo abrigava, teoricamente, os principais serviços de telecomunicação e radiodifusão que conhecemos e são empregados hoje.
E, apesar de não ter conseguido prever com fidelidade em que época futura se daria o assomo de sua invenção, Verne deixou sua contribuição intuitiva para o êxito dos fenômenos midiáticos que hoje contemplamos.
- DIZARD JUNIOR, Wilson. A nova mídia. Tradução de Antonio Queiroga e Edmond Jorge. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000;
- NOGUEIRA, Pablo. O grande mestre. Revista GALILEU. n. 172, nov. de 2005.